sexta-feira, 4 de junho de 2010

A OCASIÃO É QUEM FAZ... O LEITOR?




A OCASIÃO É QUEM FAZ... O LEITOR?
Thelma Regina Siqueira Linhares

Penso que o hábito de ler, como muitas competências socioculturais humanas, são formatadas e fomentadas pelo ambiente em que estamos inseridos. Assim, se na tenra idade for desenvolvido, o gostar de ler acontecerá suave e naturalmente, como as diferentes aprendizagens, às quais a criança vivencia. E, nesse pensar, a descrição de Lygia Bojunga no seu Livro um encontro é fantástica. Comigo, a troca foi com a Coleção Reino Infantil: presente de papai, ao término da alfabetização, com direito a dedicatória no primeiro volume e identificação do meu nome completo(!), na bela letra dele, nos outros nove volumes. Uma pergunta surge agora, definitivamente, sem resposta: Por que papai não incluiu o nome de mamãe em presente tão valioso?...

Essas reflexões e lembranças surgem como pretexto ao que se segue, motivadas pela mudança da biblioteca onde trabalho para um novo espaço, mais amplo, mais funcional, mais bonito... sinceramente, espero lá, algo parecido com o jardim interior preservado, de Michele Petit, fragmento de texto traduzido. Biblioteca onde muitos e muitas possam encontrar e encontrar-se a partir dos livros... da literatura.

Às vésperas, de início dos encaixotamentos, despedida silenciosa de tantos amigos, tantos encontros, tantos reencontros, além da poeira, de enfeiamento da sala, prateleiras vazias... É que é triste uma biblioteca com prateleiras vazias! E como é triste uma biblioteca vazia! Juntamente com alguns/mas colegas, fotos foram tiradas de diferentes ângulos – caixas com livros... prateleiras apinhadas de livros encaixotados... prateleiras repletas de livros, no aguardo de encaixotamentos... para congelar emoções diversas sentidas e compartilhadas.

Então, comecei a calcular - que O Pequeno Príncipe não saiba - o quanto li nos últimos três anos. Olhar um título bastava para a escolha. Às vezes era o colorido da capa... o formato do livro... Outras, o simples esticamento de braço e... um livro à mão. Muitas vezes, pesquisa para material a ser usado em formações e elaboração de projetos. Livros só de imagens. Livros com ilustrações e textos. Livros com textos e ilustrações. Livros com textos. Livros bilíngue: português e braile. Livros de poesias. Livros de prosa. Livros de crônicas. Livros de contos. Livros de fábulas. Livros dos clássicos da literatura nacional e internacional. Livros pomposos. Livros simples. Livros artesanais. Livros de autores/as renomados/as e premiados/as. Livros de autores/as pouco conhecidos/as. Livros de autores/as desconhecidos/as. Livros de autores/as a ser. Literatura infantil. Literatura infanto-juvenil. Literatura brasileira. Literatura estrangeira. Literatura de primeira qualidade! Ali... juntinho. Dividindo comigo o mesmo espaço.

E como foi bom! Encontros inesquecíveis: Bicos quebrados, O jardim de todos, Metade cara, metade máscara, Antologia de Contos Indígenas de Ensinamento: Tempo de Histórias, Cadê você, Jamela?, Menina bonita do laço de fita, Livro de papel, A princesa que escolhia, Bordado encantado, entre muitos, muitos e muitos. Reencontros inesperados. Assim foi com O meu é de laranja lima, lido e relido na adolescência. Os sertões, Menino de engenho... Enfim, apresentações: O dedo do menino verde, que desde a década de 80 aguardava leitura. Confissões de um vira lata, Os meninos morenos, Homens e caranguejos, A força da vida, A menina que aprendeu a voar, Posso te dar meu coração?, Crônicas marcianas e muitos outros títulos. Pequena lista de títulos que li no conforto da biblioteca ou motivada por estar numa, fazendo uso do meu cartão número 906.

A ocasião é quem faz... o leitor? A pergunta inicial volta. E por respostas, muitas alternativas: sim, quando o ambiente familiar é leitor; sim, quando na escola a/o professor/a incentiva a leitura, diariamente, sem cobranças, ler pelo prazer da leitura, compartilhando e incentivando estudantes de diferentes níveis; sim, quando na vida, o/a leitor/a busca suas próprias leituras... em qualquer época e qualquer idade, em contínuo aprendizado, como o é a própria vida.