terça-feira, 30 de setembro de 2008

VEXAME GASTRÔNOMICO


VEXAME GASTRONÔMICO
Thelma Regina Siqueira Linhares

Ela, dia desse se meteu em uma situação constrangedora gratuitamente...
Após uma reunião de trabalho, a hora da confraternização. Uma mesa recheada de guloseimas: doces e salgados variados e algumas frutas tropicais. De deixar qualquer um com água na boca e completamente fora do regime.
Ela não é chegada a lanches. No máximo, um docinho e um salgado. E, refrigerantes, nem pensar.
Dirigiu-se à mesa. Pegou uma fatia de bolo de rolo e começou a degustar. Não sabe porque, lembrou-se do maridão e dos filhotes e resolveu fazer um mimo para eles. Pegou outra fatia de bolo de rolo, empadinha, coxinha de galinha, enfim, a preferência de cada. Quando viu, estava com um guardanapo recheado na mão.
Até ai tudo bem. Estava na área da confraternização e guardanapos recheados na mão não chamam atenção. Nada de estranho, portanto.
Foi quando saiu do recinto é que começou o seu vexame. Não sabia onde esconder a mão esquerda. Cobriu-a com a direita. Deixou-a pendida ao longo do corpo. Tentou encobri-la com a bolsa. Um senhor vexame gastronômico!
Já em casa fez a distribuição das guloseimas. E jurou nunca mais passar vexame gastronômico.

Recife, 2003

sábado, 27 de setembro de 2008

ORGULHO DE SER


ORGULHO DE SER
Thelma Regina Siqueira Linhares

Orgulho de ser cearense.
Orgulho de ser recifense.
Ceafense?
Recirense?
Adjetivos-pátrios récem-criados.

Será possível?!
Ceafense.
Recirense.
Orgulho de ser duplamente nordestina.

(Recife, 2001)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

DE REPENTE



DE REPENTE
Thelma Regina Siqueira Linhares


A R C O - Í R I S
no céu apareceu.


Tão de repente,
arco-íris,
no horizonte se escondeu.

Recife, 2004

sábado, 20 de setembro de 2008

É DIA DE FEIRA


É DIA DE FEIRA (*)
Thelma Regina Siqueira Linhares


É segunda-feira. Está anoitecendo na cidade de Caruaru – a capital do forró. Como por passe de mágica, numa extensão de alguns quilômetros, ruas se transformam num imenso mercado ao ar livre. É a Feira da Sulanca de Caruaru, que nos últimos anos, funciona como pólo de compra pare feirantes e vendedores autônomos – os (as) sulanqueiros (as) – de várias cidade pernambucanas e, quem sabe, nordestinas.
Ônibus, vans, jeeps são fretados, semanalmente, por pequenos e médios comerciantes que, em Caruaru, abastecem seus comércios. Numa verdadeira maratona, noite afora. Para driblar a multidão, que vem e vai, entre as ruas tomadas por milhares de barracas. Para desviar dos carros de mão e carroças, apinhadas de mercadorias e empurradas aos gritos por seus condutores: “Olha o pesado!... Lá vem o quente!” Nessa hora é um tal de se cumprimir na multidão... se grudar na barraca do lado... parar mesmo de andar na fila indiana... ou, então, cortar caminho para uma ruela menos obstruída.
E o peso dos sacolões?!... Cada vez mais difícil de conduzir, à medida que se enchem de confecções diversas, o cansaço aumenta, as horas passam e a madrugada se aproxima. Mais pessoas continuam chegando à feira, cuja imagem parece a de um grande formigueiro em frenética atividade. Até a madrugada da terça-feira. Lá para às 9 horas, os sulanqueiros recolhem as sobras das mercadorias e, literalmente, levantam as barracas, para o merecido descanso de mais uma Feira da Sulanca de Caruaru.
Naquela cidade do agreste pernambucano, a tradicional Feira de Caruaru, “que tem tudo pra gente ver” continua mobilizando multidões nos dias de sábado. Merecendo, ainda, destaque a Feira de Artesanato, diariamente, e a Feira do Paraguai, de produtos importados.
Uma inusitada experiência para aqueles acostumados às compras de shoppings.


(*) www.usinadeletras.com.br em 08/09/2002

(**) FEIRA DE CARUARU - Famosa feira realizada no Parque 18 de Maio, no bairro de Petrópolis, é uma das maiores atrações do Nordeste. São 3 km entre praças, becos e ruas com barracas típicas vendendo couro, calçados, artesanato, bijuterias, etc. Possui um amplo estacionamento para veículos e ônibus. Feira completa sempre as terças-feiras a partir das 04 da manhã. Diariamente até as 17 hs feira de artesanato. http://www.guiapernambuco.com.br/cidades/caruaru.shtml

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

EU


EU
Thelma Regina Siqueira Linhares

Eu
Aprendiz da vida.
Nordestinamente.

Recife/2004

domingo, 14 de setembro de 2008

LER É TÃO BOM


LER É TÃO BOM (*)
Thelma Regina Siqueira Linhares

Brincar com sons
Juntar letras
Formar palavras
Descobrir a sonoridade e o nome de tudo
Que está no mundo
nas coisas
no pensamento.

Ler é tão bom!

Poder viajar
Conhecer mundos de ontem
de hoje
de amanhã.
Imaginar.
Criar.
Sonhar.
A leitura permite isso e muito mais
Pois ler é tão bom!


(*) (Poema selecionado para a Antologia OFICINA DA PALAVRA - Programa Manuel Bandeira de Leitores - Recife - Prefeitura - 2007)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

MEU LIVRO INESQUECÍVEL


MEU LIVRO INESQUECÍVEL
Thelma Regina Siqueira Linhares

Ela acabou de reler o livro, talvez, pela centésima vez.
Exagero? Não importa! Para que precisar com exatidão se, a cada leitura, há a descoberta do novo – como se fosse a primeira vez... é um detalhe nas entrelinhas até, então, despercebido. Uma interpretação diferente de alguma passagem, já bastante conhecida. Ou, ainda, a sensibilidade, estando à flor da pele, absorvendo e captando a mensagem contida nesse pequeno grande livro de Antoine de Saint-Exuréry – O Pequeno Príncipe. Meu livro inesquecível!
Como é humano, profundamente humano, esse pequeno principezinho, de cabelos cor de ouro, cuja maior riqueza – uma flor – só compreendeu o real significado em sua vida quando distante. Pois “era jovem demais para amar”.
Durante a sua viagem, Pequeno Príncipe, você manteve contato com pessoas grandes e sérias, solitárias em seus planetas, as quais qualificou com adjetivos que, por certo, não coincidiriam com a opinião que de si mesmas formavam: esquisitas, bizarras, extraordinárias...
Ah! Pequeno Príncipe, se você aparecesse agora, de repente, não no deserto, mas numa grande cidade daqui da Terra, que susto, hem principezinho!... Reis, vaidosos, bêbados, homens de negócios, geógrafos – não daria nem para contar (tamanha a quantidade desses solitários na multidão). Tão fechados em seus planetas-egocêntricos, em suas teorias, em suas auto-suficiências que não dispõem de tempo para perder em criar laços, em cativar...
Que pena!...
Mas, nem tudo está perdido, sabe Pequeno Príncipe?!
Hoje, ela fez uma relevante descoberta!
Nos olhos dela e dele, da criança e do velho, do jovem e do adulto, em meio às muitas atribulações do dia-a-dia, quase sempre tão monótono, há uma certeza – a certeza de que vale a pena cativar (se), mesmo correndo “o risco de chorar um pouco”.

http://www.usinadeletras.com.br em 13/10/2002.
http://www.dobrasdaleitura.com/index.html

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O SIMBOLISMO DAS FLORES NAS MENSAGENS AMOROSAS


O SIMBOLISMO DAS FLORES NAS MENSAGENS AMOROSAS
Thelma Regina Siqueira Linhares



O século XXI chegou e já não é novidade... A era da comunicação, da internet, do aqui e agora ligando povos, geográfica e culturalmente tão diversos em um mesmo tempo real, é fato no planeta Terra, embora com graus gritantes de distorções. A imagem, a realidade é expressada nua e crua, sem simbolismos e linguagens figuradas. "Pão pão, beijo beijo". "Preto no branco".

Mas nem sempre foi assim. Num passado cronologicamente não tão distante, o uso da linguagem simbólica das flores era freqüente e mesmo corriqueiro na comunicação dos enamorados, principalmente. Para tal era necessário o conhecimento e interpretação das duas regras básicas relacionadas às cores e perfumes e à significação emblemática das flores. As de tons claros e perfumes suaves significavam sentimentos ternos, piedosos e respeitosos, enquanto as de tonalidades fortes e perfumes penetrantes traduziam emoções mais ardentes. Por exemplo: a alfazema exprimia carinho e respeito e o cravo, amor ardente. Uma rosa vermelha exprimia amor ardente, enquanto um jasmim era entendido por quero ser todo seu.

De acordo com a cor básica, as flores exprimiam sentimentos que variavam de intensidade conforme os tons mais ou menos fortes. Assim, o vermelho, a cor do amor, simbolizava ardor - ardor exaltado ou violento (nas tonalidades fortes) ao ardor moderado e caprichoso (nos tons pálidos). O azul significava ternura – ternura intensa e apaixonada à ternura discreta e confiante. O verde traduzia esperança - esperança secreta à esperança nascente. O amarelo exprimia felicidade – felicidade completa ou alegria intensa à felicidade nova ou alegria terna. O violeta simbolizava dor - dor viva e profunda à dor passada e esquecida. O branco era a cor da inocência e pureza e o preto, cor do luto e tristeza. E, da combinação entre cores, tonalidades, símbolos e a própria flor, as múltiplas mensagens de amor iam sendo enviadas e decifradas pelos enamorados de então.

Abaixo uma relação das flores cultivadas no Brasil e que foram bastante usadas pelos enamorados no século XIX e meados do século XX e agora ilustram o folclórico simbolismo das flores nas mensagens amorosas. Observa-se a seguinte ordem: nome da flor, significação, cor e linguagem simbólica.

Alecrim - coração feliz – azul: sou feliz quando te vejo.
Alfazema - carinho e respeito – azul: amo-vos perfeitamente.
Amor-perfeito - pensamento afetuoso - todas as cores: penso em vós.
Azálea - prazer de amar – branca: feliz por saber ser amado.
Begônia - cordialidade - rosa ou branca: amizade cordial.
Boa-noite - discrição - várias cores: a prudência se impõe.
Cravo - ardor – branco: a minha amizade é viva – vermelho: amo-vos com ardor.
Cravinas - admiração - todas as cores: sou vosso escravo.
Crista-de-galo - impaciência – vermelho: diz-me o que pensas.
Crisântemo - amor findo – rosa: não tenho novo amor – branco: não me compreendeis. azul: acreditei um instante em vós.
Dália - reconhecimento – vermelha: o vosso amor é minha felicidade. – amarela: o meu coração transborda de amor.
Erva-cidreira - energia – branca: tenho pena de fazer sofrer o meu amor.
Girassol - fascinação – amarelo: só a vós vejo.
Hortelã - memória – branca: guardo recordações e tenho esperanças.
Hortênsia - capricho – azul: desgostam-me teus caprichos.
Lírio - coração terno – branco: amo-vos ternamente. – matizado: amo-vos com felicidade.
Lírio-branco - pureza – branco: são puros os meus sentimentos.
Maravilha - tristeza - branca ou rosa: longe de vós entristeço.
Margarida - aspiração – branca: os meus pensamentos e o meu amor são vossos.
Miosótis - fiel recordação – azul: não vos esqueças de mim.
Narciso - egoísmo - vaidade – branco: não tendes coração.
Orquídea - ardor – branca: amor puro. – rajada: amor ambicioso.
Papoula - fraco ardor – vermelha: antes de tudo amemos.
Perpétua - eterna saudade - várias cores: dor que não se extingüe.
Rosa - amor – branca: amor triste. – rosa: juramento de amor. – vermelha: amor ardente.
Rosa silvestre - felicidade efêmera - branca ou rosa: os dias felizes passam depressa.
Sensitiva - extrema sensibilidade – cinzenta: um nada me desgosta.
Trevo - incerteza – rosa: muito gostaria de saber.
Tulipa - declaração - todas as cores: declaração de amor.
Urtiga - crueldade - branca amarelada: desgosta-me a vossa crueldade.
Violeta - amor oculto – violeta: que ninguém saiba de nosso amor.

Esta linguagem simbólica das flores é hoje, principalmente, uma lembrança do passado, guardado na memória de alguns. Testemunho de uma época, de um tempo em que, para se marcar um encontro, por exemplo, mandava-se um buquê tendo ao centro um gladíolo - flor que significava entrevista. O número de flores correspondia à hora marcada... É o tempo passou: já não se oferta flor como antigamente.


Referência bibliográfica

GRAVE, J.; COELHO NETO. Flores (linguagem das). In: Lello & Irmãos Editores. Lello Universal em 4 volumes - Novo Dicionário Luso-brasileiro. 1ª ed.. Porto,Lello & Irmãos 1°. v.2, p. 1055-1058.


Colaboração da autora para a Jangada Brasil (www.jangadabrasil.com.br)


sábado, 6 de setembro de 2008

GARIMPAGEM


GARIMPAGEM
Thelma Regina Siqueira Linhares

Quando busquei a melhor palavra
para desvirginar o papel
- que dificuldade ! -
o tal escrito não saia
não fluia...
só uma idéia surgia:
será a saudade
o sal da idade?

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

... OUTRAS MENINAS



... OUTRAS MENINAS
Thelma Regina Siqueira Linhares

Como Cecília,
conheci três meninas
outras meninas
e já não tão meninas...

Beta,
Nida e
Dulce.

Três tias
não Marias,
com certeza,
outrora,
três meninas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

APRENDENDO COM A MÃE NATUREZA


APRENDENDO COM A MÃE NATUREZA
Thelma Regina Siqueira Linhares

Naquele trecho, à beira da estrada, a vida transcorria tranqüilamente.
Era manhã de verão e uma leve brisa fazia-se sentir sob o sol, já quente, nas primeiras horas do dia.
Os pássaros, principalmente pardais, faziam a festa. Num gorjear alegre, entre saltitos e banhos de areia, disputavam com rolinhas e sibitos, insetos e outras guloseimas.
Gramas e flores campestres davam colorido e frescor àquela paisagem um pouco castigada pelo rigor de mais um verão.
Tudo na mais perfeita harmonia.
Até o exato momento em que um toco de cigarro foi atirado ao léu.
Daí em diante foi, literalmente, o inferno.
A vegetação, ressecada pelo sol de verão, foi favorecendo focos de fogo... que logo se alastraram. Vorazes. Queimando tudo ao redor e lançando mais línguas de fogo, estrada à fora.
Tudo ardeu!...
Tudo queimou!...
Ficou no ar um cheiro forte e triste de queimado. Cheiro e visão de morte.
E que mortandade!
Formigas.
Centopéias.
Minhocas.
Lagartixas.
Gafanhotos.
Abelhas.
Borboletas.
Pardais. Rolinhas. Sibitos.
Sem contar as diferentes espécies de gramas, matinhos e plantas campestres.
Aquele ecossistema estava atingido mortalmente.
Grande era a extensão da devastação.
Mortal devastação!
Felizmente, dois dias depois, caiu uma boa chuvinha de verão fazendo o verde e a vida voltar aquele espaço.
A natureza sempre nos dá lições de esperanças e recomeços...
Até a próxima ponta de cigarro, irresponsavelmente, ser atirada ao léu...

www.usinadeletras.com.br em 22/09/2002
Antologia de Contos Autores Contemporâneos – 1° vol – CBJE/RJ - out/2004